Renda e habitação são as principais preocupações dos moradores que vivem na chamada região do Pântano, em Pelotas. Os moradores do local têm uma vida sofrida, especialmente a família de Maria Regina Duarte, de 63 anos, que divide uma habitação com filhos e netos, que já perdeu a conta de quantos são. Um projeto criado pelo acadêmico de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Cassius Baumgarten, está trazendo novas perspectivas de habitação popular para a região e mobilizando parte da comunidade na construção da moradia, que já ficou carinhosamente conhecida por A Casa das Sete Meninas, porque irá abrigar as irmãs que recentemente perderam a mãe.
A ideia de levar a tecnologia da Casa Pallet - iniciativa de Cassius - para a região foi da assistente social do Lar da Criança Dona Conceição, Josana Pires, que sensibilizada pela problemática dos moradores viu no projeto da UCPel uma alternativa para a melhoria da habitação e ainda uma possibilidade de renda extra para os moradores do local. Segundo a assistente social, a escolha da família a ser beneficiada foi pensada justamente para mobilizar a comunidade, na intenção de outras pessoas conhecerem o projeto.
Maria Regina foi escolhida por sua história, principalmente devido à recente perda de uma de suas filhas, que deixou sete netas pequenas sob sua responsabilidade. “Essa mãe fazia parte de um projeto desenvolvido pelo Lar e seu sonho era ter uma casa com uma cama para cada uma de suas filhas”, conta. Outra preocupação da mãe das meninas era que elas permanecessem unidas, complementa.
A partir da comovente história, várias pessoas da comunidade se engajaram na construção da peça, que já está em andamento. “Aqui na região do Pântano foi onde o projeto obteve mais adesão junto à comunidade”, comenta Cassius. Todos os moradores do local foram convidados para conhecer a Casa Pallet e aprender como se constrói a moradia.
A ajuda para a construção da nova Casa das Sete Meninas ainda conta com a ajuda dos colegas também atendidos pelo Lar da Criança Dona Conceição. Uma vez por semana, eles participam de uma oficina onde caixas de leite e garrafas pet são cortadas com a intenção de virarem parte dos móveis que comporão a parte interna da casa. De acordo com a assistente social, cerca de 20 pessoas estão trabalhando na construção de móveis e da casa das meninas, sendo várias de outras partes da cidade.
Para o professor responsável pelo projeto Habitação de Interesse Social, Noé Vega de Mello, o real ganho do projeto Casa Pallet é desafiar a Universidade e seus alunos a pensar alternativas ecológicas de baixo custo para a moradia popular. Ainda conforme o professor, o maior ganho para o aluno é sua interação com a comunidade. “Conseguimos desenvolver o que se chama de intersaber, onde o aluno desenvolve o projeto e aprende na hora da prática, sem nunca esquecer que se ensina à comunidade, mas também se aprende com ela”, diz.
A Casa Pallet deve ser entregue às sete meninas no mês de dezembro, e uma delas, de 12 anos, já faz planos para a nova moradia. “Estou empolgada com a construção da casa e ansiosa para ter uma cama só pra mim”, conta. A menina se diz feliz ao ver tantas pessoas ajudando na construção de parte de seus sonhos.
Casa Pallet
O projeto da Casa Pallet envolve uma moradia construída com de materiais recicláveis, como pallet, embalagens tetra pak, óleo queimado, pneus e garrafas pet. A ideia de Cassius chama a atenção pela simplicidade e eficiência de ofertar uma moradia digna para pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza.
Um dos pontos mais positivos do projeto é passar o desenvolvimento da tecnologia para a comunidade. “Nosso interesse é que os próprios moradores aprendam a construir as suas peças”, explica o professor Noé. Para que isso ocorra, a construção da casa já foi pensada para ser de fácil acesso. Além da região do Pântano, uma família do bairro Dunas já foi beneficiada com a construção de uma peça.
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