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Opinião - Virtudes teologais em tempo de pandemia
Opinião - Virtudes teologais em tempo de pandemia

Neste tempo de pandemia, tenho refletido e rezado muito sobre as três virtudes teologais (são “teologais”, porque são próprias de Deus e nós as recebemos como dom) a fé, a esperança e o amor. Em última análise, são elas que nos sustentam e dão sentido à vida. Quando tudo se torna “liquidez” (sem sustento) estão aí as três virtudes teologais para nos dar “solidez” (com sustento). A pandemia nos está escancarando o quanto podemos apenas construir nossa vida sobre a “liquidez”! E a falta de solidez nos deixa vazios, depressivos e superficiais.

As três virtudes teologais andam juntas como três irmãs. É conhecido o poema escrito pelo poeta católico francês, Charles Péguy (1873-1914), no qual descreve as três virtudes teologais “como irmãs, caminhando de mãos dadas”. Segundo o poeta, a primeira - a fé – é a irmã “casada”, cujo andar discreto e compenetrado pelos caminhos evoca a fidelidade esponsal. A terceira - o amor - caminha ao seu lado, é a irmã “mãe” de muitos filhos, dedicada e afetuosa, de corpo generoso, que dá frutos e cujo andar é amoroso e fecundo. A segunda - a esperança - que caminha entre as duas, é a” irmã menor”, menos visível e, talvez, mais esquecida. E citando o poeta: “no caminho da encarnação, no caminho áspero da salvação, da estrada interminável, entre suas duas irmãs, a pequena esperança toma a dianteira”. De mãos dadas, entrelaçadas, pode-se pensar que as duas irmãs grandes, de mais idade, que andam “no tempo presente”, cuidam e conduzem a irmã pequena. Mas se observarmos com mais atenção, afirma o poema, o que vemos é que “é ela, que está no meio, quem conduz suas irmãs grandes; que sem ela, elas - as irmãs grandes - não seriam nada, somente duas mulheres já idosas, enrugadas pela vida. É ela, esta pequena, que conduz tudo”.

A esperança, “a menor”, conduz a fé e o amor, “as maiores”. E, as três juntas, conduzidas pela esperança, conduzem à alegria verdadeira: a alegria é sustentada, é mantida, e é garantida em todas as circunstâncias, especialmente numa vida de “solidez”. O vazio da vida é preenchido pela fé, a depressão da vida é sustentada pela esperança; a superficialidade da vida é derrubada pelo amor.

O tempo de pandemia que vivenciamos, é tempo de voltarmos à uma fé, uma esperança e um amor maiores. É tempo de inventarmos caminhos que solidificam a fé, a esperança e o amor. É tempo de criarmos mais “solidez” na nossa história humana, que ultimamente perdeu tanta energia em criar “alicerces meramente líquidos”. É tempo de construirmos uma fé, uma esperança e um amor “sólidos”. É tempo de darmos espaço para o Senhor dos Tempos e da História, e, acolhermos o seu maior, consistente e definitivo dom: as virtudes teologais da fé, da esperança e amor.

Tudo o que é líquido é “líquido”! Tudo que é sólido é “sólido”. Na “liquidez” de uma vida do sem acreditar, do sem esperar e do sem amar, é hora de entrelaçarmos as mãos com as três irmãs – as três virtudes teologais. Voltará, então, a certeza de uma “vida sólida” alicerçada na fé, na esperança e no amor.

Especialmente em tempo de pandemia, precisamos decididamente das virtudes teologais: “crer” para preencher o vazio da vida, “esperar” para sustentar a depressão da vida e “amar” para derrubar a superficialidade da vida.

Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas

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