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[Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
21.05.2015 | 18:42 | #capelania-e-identidade-crista
[Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
Na ocasião da Semana de Oração pela Unidade Cristã, que acontece de 17 a 24 de maio de 2015, o Convite à Reflexão da Capelania aborda o ecumenismo. A atividade é uma iniciativa de caráter ecumênico realizada anualmente em todo o mundo para colocar em evidência a causa da unidade cristã. No hemisfério sul, as atividades são realizadas na semana que antecede a festa de Pentecostes. 

Oferecemos a carta das Igrejas-membro do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil e uma entrevista com Dom Flávio Irala, presidente do CONIC, onde explica o que levou à escolha do tema da Semana desse ano “Dá-nos um pouco da tua água (Jo4,7)” e recorda a importância do diálogo para as relações ecumênicas. 
Em seguida, disponibilizamos um artigo publicado pelo portal IHU, em janeiro de 2015, que manifesta a contribuição de Francisco neste tema e ressalta a proximidade do Concílio pan-ortodoxo em 2016 e o Jubileu da Reforma em 2017.

Por último, apresentamos a Mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sócias, comemorado no dia 17 de maio. A mensagem tem como título “Comunicar a família: ambiente privilegiado do encontro na gratuidade do amor” e afirma: “Podemos dar, porque recebemos; e este circuito virtuoso está no coração da capacidade da família de ser comunicada e de comunicar; e, mais em geral, é o paradigma de toda a comunicação”.

Que os textos desta semana nos ajude a construir um diálogo franco e fraterno que proporcione sempre mais vida. 


CARTA DAS IGREJAS SOBRE A SOUC 2015

O amor de Deus, a paz de Jesus Cristo e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco!

Queridos irmãos e irmãs das comunidades cristãs no Brasil,
“Dá-me um pouco de tua água” (Jo 4.7) é o lema bíblico que o movimento ecumênico brasileiro, através do CONIC, propôs ao Conselho Mundial de Igrejas e ao Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos ao ser convidado a preparar o material da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2015.

O pedido por água, feito por Jesus à mulher samaritana, é também o testemunho ecumênico que oferecemos aos irmãos e irmãs das muitas Igrejas que anunciam a boa-nova de Jesus, nos mais diferentes contextos do mundo. A fé em Jesus Cristo precisa expressar-se nessa abertura para encontros e conversas. Não devemos ver no outro um inimigo ou uma ameaça, mas sim, reconhecer nele uma expressão do amor de Deus. Complementamo-nos e crescemos quando nos abrimos para estes encontros. Este é o nosso testemunho ecumênico.

Em contextos de intolerância e perseguições religiosas, colocamos diante das nossas Igrejas o desafio de fazer a experiência do diálogo. Saiamos de nossas casas e até dos nossos templos e vamos ao encontro de nossos irmãos, irmãs, vizinhos e vizinhas. Ouçamos o que eles ou elas têm a contar sobre sua fé, sua vida, suas experiências e dúvidas. Celebremos juntos esta vivência plural do único amor de Deus!

Nas bem-aventuranças deixadas a nós por Jesus Cristo em Mt 5.1-9 encontramos o convite para que atuemos em favor da paz, pois assim seremos chamados e chamadas de filhos e filhas de Deus. A construção da paz passa, necessariamente, pelo diálogo. Peregrinemos nessa direção para que o nosso testemunho público seja de unidade e de acolhida à diversidade.

Animamos cada grupo e comunidade a celebrar a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2015. Que esta Semana seja uma grande festa de Pentecostes!
Oramos por cada irmão e cada irmã das nossas comunidades e pedimos que as nossas Igrejas também orem por nós para que possamos servir com coerência e dedicação á causa da justiça e da paz, valores centrais do Evangelho.
Na unidade de Cristo,

Dom Leonardo Ulrich Steiner (Bispo Auxiliar de Brasília e Secretário Geral da CNBB)
Pastor Dr. Nestor Paulo Friedrich (Pastor Presidente da IECLB)
Dom Francisco de Assis da Silva (Bispo Primaz da IEAB)
Presbítero Wertson Brasil (Moderador da IPU)
Dom Paulo Titus (Arcebispo da ISOA)



Presidente do Conic explica a Semana pela Unidade Cristã

Em entrevista exclusiva, Dom Flávio Irala explica o que levou à escolha do tema da Semana desse ano e recorda a importância do diálogo para as relações ecumênicas

Jéssica Marçal
Da Redação

Cristãos brasileiros se preparam para iniciar, neste domingo, 17, a Semana de Oração pela Unidade Cristã. Trata-se de uma iniciativa de caráter ecumênico realizada anualmente em todo o mundo para colocar em evidência a causa da unidade cristã.

No hemisfério sul, as atividades são realizadas na semana que antecede a festa de Pentecostes. Essa escolha se justifica pelo fato de que Pentecostes é também um símbolo da unidade, já que ali o Espírito Santo reuniu as nações de várias línguas em um só povo de Deus. A explicação é do presidente do Conselho Nacional de Igrejas (Conic), Dom Flávio Irala, bispo da Igreja Anglicana.

Em entrevista ao noticias.cancaonova.com, ele comenta o tema escolhido para a Semana da Unidade Cristã deste ano e o processo de organização das atividades. Dom Flávio também menciona a recordação que se pretende fazer dos cristãos perseguidos, vítimas da intolerância religiosa.

Confira mais detalhes na entrevista com Flávio Irala:

noticias.cancaonova.com – Quais iniciativas estão previstas para a Semana de Oração pela Unidade Cristã 2015?
Dom Flávio Irala - Como sempre, o momento maior da Semana de Oração pela Unidade Cristã é a reunião das comunidades cristãs para celebrar o compromisso com a busca da unidade. As celebrações são de uma riqueza imensa, pois, em cada cidade, as comunidades se apropriam do material da semana de uma maneira particular, a partir de sua experiência local e de sua tradição eclesial. Queremos que a Semana seja celebrada sempre e para isso tem havido um grande esforço de divulgação e preparação de subsídios litúrgicos e cartazes. Há lugares em que há várias denominações que participam do movimento ecumênico; há outros em que há uma ou duas. O importante é que, em todos os lugares, a busca da unidade seja celebrada; às vezes, como uma realidade; outras vezes, como algo a realizar, como um sonho que nos motiva a trabalhar juntos para fazer a vontade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

noticias.cancaonova.com – O tema da Semana deste ano foi inspirado no Evangelho de João: “Dá-nos um pouco da tua água”. O que levou à escolha do tema?
Dom Flávio Irala - O tema da Semana de Oração pela Unidade Cristã de 2015 foi inspirado em João 4,7, que faz parte da narrativa do encontro de Jesus com a mulher samaritana. Essa passagem é, sobretudo, inspiradora quando trabalhamos para a superação de todo tipo de intolerância em nosso mundo. Queremos que as pessoas e comunidades sintam a importância do diálogo no projeto de Jesus e vivam isso nas suas relações comunitárias e ecumênicas. Como diz a carta das igrejas do Conic sobre a SOUC 2015: “O pedido por água, feito por Jesus à mulher samaritana, é também o testemunho ecumênico que oferecemos aos irmãos e irmãs das muitas Igrejas que anunciam a Boa Nova de Jesus, nos mais diferentes contextos do mundo. A fé em Jesus Cristo precisa expressar-se nessa abertura para encontros e conversas. Não devemos ver no outro um inimigo ou uma ameaça, mas sim reconhecer nele uma expressão do amor de Deus. Complementamo-nos e crescemos quando nos abrimos para estes encontros. Este é o nosso testemunho ecumênico.”

noticias.cancaonova.com – No Brasil, essa Semana é organizada pelo Conic. Como é a participação de cada Igreja cristã no processo de organização, isto é, desde a escolha do tema até a promoção das atividades?
Flávio Irala - Cada igreja que integra o Conic participa da organização e divulgação da SOUC. O material litúrgico utilizado nas celebrações é publicado em parceria pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e pelo Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos. A cada ano é convidado um país para prepará-lo; para este ano, foi o Brasil. Desde 2013, uma comissão formada por representantes das igrejas e de organismos ecumênicos, sob a coordenação do Conic, trabalhou na preparação desse material, escolhendo tema e subsídios. No mesmo ano, a comissão se reuniu com o Comitê Internacional para finalizar o material. Com o material definido, passa-se à organização e promoção das atividades da Semana, que ficam a cargo das representações ecumênicas locais.

noticias.cancaonova.com – No hemisfério sul, essa Semana de Oração acontece na semana que antecede a festa de Pentecostes. Qual a razão dessa escolha?
Dom Flávio Irala - A Semana foi celebrada, pela primeira vez, em janeiro de 1908, entre as festas da Confissão de São Pedro, em 18 de janeiro, e a Conversão de São Paulo, apóstolo das nações e evangelizador dos gentios, comemorada em 25 do mesmo mês. E continua até hoje sendo celebrada nesta data no hemisfério norte. Alguns anos depois, foi proposta outra data para o hemisfério sul. Escolheu-se a semana que antecede o Pentecostes, também considerado símbolo da unidade, pois ali o Espírito reuniu as nações de várias línguas em um só povo de Deus. A partir da proposta de Fé e Ordem, movimento ecumênico que depois seria incorporado ao Conselho Mundial de Igrejas, a data passou a ser usada em 1926. O interessante é que essa data já havia sido sugerida pelo Papa Leão XIII em 1894.

noticias.cancaonova.com –  O Conic pretende, de alguma forma, recordar nessa Semana de Oração os cristãos perseguidos? Como?
Dom Flávio Irala - Certamente o assunto será lembrado, pois, neste ano, estamos falando em superar situações desse tipo. Pode-se dizer que o pano de fundo da Semana de 2015 é a situação de intolerância que vivemos em nossos dias, que gera perseguição e injustiça. É bom lembrar que toda intolerância é lastimável aos olhos de Deus. E a superação da intolerância começa com cada um de nós. O gesto de Jesus de pedir água à samaritana é um convite para a acolhida do diferente em nossas vidas, rompendo com preconceitos étnicos, culturais, sociais. Por isso, lamentamos que cristãos sejam perseguidos por causa de sua fé. E, por outro lado, lamentamos também que cristãos persigam outras pessoas por causa da fé que professam. Esperamos que a Semana inspire todos os cristãos a trabalharem por um convívio fraterno e acolhedor entre as pessoas, independente de seu credo religioso. Nosso sonho é que todas as pessoas estejam unidas pelo vínculo do amor, caminhando e cantando uma canção de justiça e paz.


Ecumenismo: entre memória e futuro, a novidade de Francisco

O ano que recém-começou se preanuncia como a vigília de dois eventos que poderia marcar uma reviravolta nas relações entre as Igrejas cristãs: o Concílio pan-ortodoxo em 2016 e o Jubileu da Reforma em 2017.

A reportagem é de Vittoria Prisciandaro, publicada na revista Jesus, de janeiro de 2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Para as Igrejas protestantes, a década em curso é uma oportunidade para reelaborar a herança de Lutero, no fundo, uma festa, à qual Francisco foi convidado: "Em três anos, se celebrará o quinto centenário da Reforma de 1517", disse, no dia 8 de novembro, durante uma audiência no Vaticano, o bispo Christian Krause, presidente emérito da Federação Luterana Mundial. "Queremos celebrá-lo junto com o senhor, no sinal do amor de Deus como testemunho dirigido a toda a Cristandade da terra".

Para os ortodoxos, ao contrário, se tratará de um "primeiro" absoluto, já que as 14 Igrejas autocéfalas nunca se encontraram em um Sínodo Geral, depois dos sete primeiros Concílios ecumênicos celebrados com a Igreja de Roma. Um compromisso fortemente desejado pelo patriarca de Constantinopla, que desperta entusiasmo entre os observadores ecumênicos, mas é visto com desencanto pelos ortodoxos mais avisados, que temem a prevalência de questões geopolíticas sobre as razões espirituais.

"Os ortodoxos são, plenamente, Igrejas irmãs, a unidade entre eles facilitará o caminho para a comunhão visível na diversidade", diz Enzo Bianchi, prior daComunidade de Bose. "O seu problema com os católicos é somente o ministério universal do bispo de Roma. Eles aceitam o que foi vivido no primeiro milênio: devemos apontar para isso e pedir apenas que o servo da comunhão em nível universal possa exercer o seu ministério, sempre que essas Igrejas precisem dele". Nesse sentido, é muito importante o encontro entre Francisco e Bartolomeu emConstantinopla.

Na véspera da viagem do papa à Turquia, um seminário internacional organizado pela Fundação para as Ciências Religiosas João XXIII, realizado no Mosteiro de Bose (26 a 28 de novembro), lançou o projeto de uma história do ecumenismo: "Partimos da ideia que o trabalho histórico, nos momentos mais sérios e graves de passagem, possa servir à vida das Igrejas", diz Alberto Melloni, diretor do instituto de Bolonha.

Hoje, defende o historiador, é evidente que – mesmo tendo acabado a época do conflito, da incomunicabilidade e do ódio entre os cristãos – ainda permanecem problemas: "Há 50 anos, o Vaticano II parecia, especialmente aos católicos, que se estivesse a um passo da unidade. Depois, começou a grande época dos diálogos. Hoje, sente-se uma sensação de que, mais à frente do que isso, não se pode esperar de chegar e também se sente um forte retorno do confessionalismo".

Para os católicos, por exemplo, as grandes viradas do Vaticano II não foram resolutivas, porque pediam "uma reapropriação geracional que nunca aconteceu. A capacidade das Igrejas de manter a sua unidade exige um esforço de compreensão do caminho percorrido". É o sentido do projeto dessa obra de pesquisa histórica coletiva, com a colaboração de estudiosos provenientes de diferentes confissões e culturas, que deve começar nos próximos anos.

"O caminho feito é um tesouro importante para não se dispersar. Muitas vezes, na história da Igreja, buscou-se um tempo em que não havia divisões – a Igreja primitiva, das origens, do primeiro milênio –, mas, desde o início, desde Tiago e Paulo, é constitutivo da Igreja estar em caminho rumo à unidade, e não uma realidade da perfeita unidade, que é preciso defender".

Nas duas noites da conferência, o prior de Bose André Birmelé, pastor e teólogo luterano francês, homem apaixonado pelo diálogo, que ocupou cargos nos principais órgãos ecumênicos – como a Comissão Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas – ofereceram a sua leitura da situação atual. Bianchi partiu do impasse do diálogo com os ortodoxos: o último encontro da Comissão Mista, que foi realizado em Amã, em setembro passado, e que devia discutir o primado petrino, concluiu-se sem um texto comum. O próximo encontro será em 2017, depois do Concílio pan-ortodoxo.

Também com as antigas Igrejas orientais, com as quais se estava trabalhando em um texto sobre a natureza e a função da Igreja, o diálogo está bloqueado. Não por acaso, Francisco, voltando da Turquia, quis enviar uma mensagem, dizendo que "as Igrejas católicas orientais têm o direito de existir. Mas o uniatismo é uma palavra de outra época. Hoje, não se pode falar assim. É preciso encontrar outro caminho". A situação parecia estar melhor com os vetero-católicos, mas depois veio "o recente acordo destes com os anglicanos e luteranos sobre a ordenação feminina, que, para Roma, continua sendo um problema".

Quanto ao mundo da Reforma, depois do acordo sobre a Justificação, não se entende mais como continuar: "O verdadeiro problema com os protestantes é a ética. O caminho, até agora", diz Bianchi, "se baseou na fé e na teologia. Mas, hoje, é a cultura que cria divisões nas Igrejas". Sobre certos temas, os bispos católicos dos Países Baixos e da Alemanha estão mais perto dos protestantes do que aos seus coirmãos católicos africanos.

O cenário, depois, se complica ainda mais com a irrupção daquela que Bianchichama de "terceira transformação do cristianismo": ou seja, o surgimento das novas Igrejas evangélico-carismático-pentecostais, que hoje "constituem a segunda força depois do catolicismo".

As Igrejas históricas, em parte, não sabem como se relacionar com essas novas realidades, em parte, temem a sua capacidade de proliferação. Também nessa frente, pode ser decisiva a novidade do Papa Francisco, que "está exortando ao diálogo também com essas realidades emergentes, porque – disse – o que é decisivo para pertencer ao corpo de Cristo é o batismo. É uma nova ótica para a Igreja Católica".

Essas recentes comunidades cristãs representam um desafio para todo o movimento ecumênico, acrescenta André Birmelé: não apenas pelo número de fiéis – cerca de 750 milhões de pessoas –, mas também porque a maioria delas considera irrelevante "a unidade entre as Igrejas, mesmo estando interessadas na unidade entre os cristãos". Uma atitude que pede que o movimento ecumênico encontre "uma nova metodologia de diálogo" em nível internacional. Não é uma inversão rota em relação à tradição.

A quem olha com certo ceticismo para os longos diálogos bilaterais entre as Igrejas, Birmelé diz: "As conclusões dos diálogos pertencem aos peritos. A sua tarefa é permitir que as Igrejas falam brevíssimas declarações, teologicamente fundamentadas. São expressão de uma vontade eclesial e de uma decisão política", assim como para o acordo sobre a Justificação, que tinha sido "fortemente desejado por João Paulo II".

Com os protestantes, a questão teológica que permanece em aberto é a compreensão da Igreja, dos ministérios e da catolicidade. Para Cyril Hovorun, membro da Igreja Ucraniana do Patriarcado de Moscou e professor daUniversidade de Yale, "o problema não é encontrar mais um acordo teológico. Nós, ortodoxos, fizemos isso com as antigas Igrejas orientais há 25 anos, e não mudou nada. O status quo das diferenças parece mais importante do que a unidade. O diálogo deve ser mais amplo e incluir também outros aspectos, como a cultura".
O jovem teólogo fala também de um "ecumenismo ideológico": "Na Igreja Ortodoxa de Moscou, há uma divisão entre liberais e conservadores. Facções que buscam alianças com os seus semelhantes nas outras Igrejas. É o que aconteceu há alguns anos atrás, sobre os temas da família entre Moscou e o Conselho das Conferências Episcopais Europeias. Desse modo, estabelece-se uma linha ideológica que trai a doutrina".

Hovorun defende ainda que o diálogo deveria ser realizado também ad intra: "AsIgrejas Ortodoxas são autônomas, não é óbvio o diálogo dentro delas. Falta uma eclesiologia comum, e, quando nos encontramos, vemos que temos visões diferentes da Igreja. Faltou-nos um Vaticano II. Por isso, sou pessimista em relação ao Concílio pan-ortodoxo: se ele for feito, não vão se tocar os verdadeiros problemas ou se agravará o frágil equilíbrio existente até agora".

O nó que ameaça o encontro de 2016 é o contraste entre Moscou eConstantinoplaAlexei Bodrov, diretor do Instituto Bíblico Teológico Santo André, de Moscou, explica bem: "É um assunto doloroso: Moscou e Constantinopla se excomungaram reciprocamente, há alguns anos, por causa do problema da jurisdição sobre a Estônia. Não é um problema teológico, mas geopolítico. O Patriarcado de Moscou é a maior Igreja ortodoxa do mundo, enquanto Constantinopla é a mais influente, mas tem poucos fiéis. A luta pela supremacia entre Moscou e Constantinopla também bloqueia o diálogo comRoma".

A situação, diz Bodrov, é ainda mais agravada pela Ucrânia, cuja Igreja conta com a quase metade dos fiéis do Patriarcado de Moscou. Se ela se tornasse independente, Moscou se tornaria minoria: "Por isso, o Sínodo de 2016 terá muitas dificuldades".

O instituto de Bodrov organizou, em dezembro, em Moscou, um congresso sobre os fundamentalismos, um fenômeno que está "crescendo na Ortodoxia, ligado ao criacionismo. Envolve também alguns bispos e metropolitas. Paralelamente, desenvolveu-se também um fundamentalismo laico, ao qual deve ser somado o islâmico".

Nesse contexto cultural, onde simples fiéis se veem "ouvindo discursos medievais nas igrejas", falar de ecumenismo soa como uma blasfêmia: "A própria palavra é percebida como uma heresia. Quando fazemos projetos ecumênicos, chamamo-los de 'diálogo entre as Igrejas'. Muitos seminaristas estão interessados, mas não há livros, nem professores. Traduzimos a história do Vaticano II e alguns textos doConselho Ecumênico das Igrejas, mas não é o suficiente. Fiéis e párocos ortodoxos não sabem nada das outras Igrejas cristãs".

Também é verdade que, como declarou o patriarca de Constantinopla, com a chegada de Francisco, "os ortodoxos não têm mais medo de Roma". E o próprio papa não excluiu um encontro com o Patriarca Kirill, de Moscou: "Nós dois queremos nos encontrar e queremos ir em frente".

À espera de 2016 e olhando para o cinquentenário da Reforma de 2017, perguntamos a Bianchi como a Igreja Católica pode acompanhar tais celebrações: "Para nós, católicos", responde, "esse Jubileu poderia ser uma memória a que o Evangelho nos convida constantemente: Ecclesia semper reformanda. O Papa Francisco não tem medo de usar esse termo. Paulo VI também o fazia. Mas nos seus escritos, quando havia a palavra 'reforma', ela era traduzida como renovatio, e não como reformatio".



MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA FRANCISCO 
PARA O XLIX DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

Comunicar a família: 
ambiente privilegiado do encontro na gratuidade do amor
[17 de Maio de 2015]
 
O tema da família encontra-se no centro duma profunda reflexão eclesial e dum processo sinodal que prevê dois Sínodos, um extraordinário – acabado de celebrar – e outro ordinário, convocado para o próximo mês de Outubro. Neste contexto, considerei  oportuno que o tema do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais tivesse como ponto de referência a família. Aliás, a família é o primeiro lugar onde aprendemos a comunicar. Voltar a este momento originário pode-nos ajudar quer a tornar mais autêntica e humana a comunicação, quer a ver a família dum novo ponto de vista.

Podemos deixar-nos inspirar pelo ícone evangélico da visita de Maria a Isabel (Lc 1, 39-56). «Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Então, erguendo a voz, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”» (vv. 41-42).

Este episódio mostra-nos, antes de mais nada, a comunicação como um diálogo que tece com a linguagem do corpo. Com efeito, a primeira resposta à saudação de Maria é dada pelo menino, que salta de alegria no ventre de Isabel. Exultar pela alegria do encontro é, em certo sentido, o arquétipo e o símbolo de qualquer outra comunicação, que aprendemos ainda antes de chegar ao mundo. O ventre que nos abriga é a primeira «escola» de comunicação, feita de escuta e contacto corporal, onde começamos a familiarizar-nos com o mundo exterior num ambiente protegido e ao som tranquilizador do pulsar do coração da mãe. Este encontro entre dois seres simultaneamente tão íntimos e ainda tão alheios um ao outro, um encontro cheio de promessas, é a nossa primeira experiência de comunicação. E é uma experiência que nos irmana a todos, pois cada um de nós nasceu de uma mãe.

Mesmo depois de termos chegado ao mundo, em certo sentido permanecemos num «ventre», que é a família. Um ventre feito de pessoas diferentes, interrelacionando-se: a família é «o espaço onde se aprende a conviver na diferença» (Exort. ap.Evangelii gaudium, 66). Diferenças de gêneros e de gerações, que comunicam, antes de mais nada, acolhendo-se mutuamente, porque existe um vínculo entre elas. E quanto mais amplo for o leque destas relações, tanto mais diversas são as idades e mais rico é o nosso ambiente de vida. O vínculo está na base da palavra, e esta, por sua vez, revigora o vínculo. Nós não inventamos as palavras: podemos usá-las, porque as recebemos. É em família que se aprende a falar na «língua materna», ou seja, a língua dos nossos antepassados (cf. 2 Mac 7, 21.27). Em família, apercebemo-nos de que outros nos precederam, nos colocaram em condições de poder existir e, por nossa vez, gerar vida e fazer algo de bom e belo. Podemos dar, porque recebemos; e este circuito virtuoso está no coração da capacidade da família de ser comunicada e de comunicar; e, mais em geral, é o paradigma de toda a comunicação.

A experiência do vínculo que nos «precede» faz com que a família seja também o contexto onde se transmite aquela forma fundamental de comunicação que é aoração. Muitas vezes, ao adormecerem os filhos recém-nascidos, a mãe e o pai entregam-nos a Deus, para que vele por eles; e, quando se tornam um pouco maiores, põem-se a recitar juntamente com eles orações simples, recordando carinhosamente outras pessoas: os avós, outros parentes, os doentes e atribulados, todos aqueles que mais precisam da ajuda de Deus. Assim a maioria de nós aprendeu, em família, a dimensão religiosa da comunicação, que, no cristianismo, é toda impregnada de amor, o amor de Deus que se dá a nós e que nós oferecemos aos outros.

Na família, é sobretudo a capacidade de se abraçar, apoiar, acompanhar, decifrar olhares e silêncios, rir e chorar juntos, entre pessoas que não se escolheram e todavia são tão importantes uma para a outra… é sobretudo esta capacidade que nos faz compreender o que é verdadeiramente a comunicação enquanto descoberta e construção de proximidade. Reduzir as distâncias, saindo mutuamente ao encontro e acolhendo-se, é motivo de gratidão e alegria: da saudação de Maria e do saltar de alegria do menino deriva a bênção de Isabel, seguindo-se-lhe o belíssimo cântico do Magnificat, no qual Maria louva o amoroso desígnio que Deus tem sobre Ela e o seu povo. De um «sim» pronunciado com fé, derivam consequências que se estendem muito para além de nós mesmos e se expandem no mundo. «Visitar» supõe abrir as portas, não encerrar-se no próprio apartamento, sair, ir ter com o outro. A própria família é viva, se respira abrindo-se para além de si mesma; e as famílias que assim procedem, podem comunicar a sua mensagem de vida e comunhão, podem dar conforto e esperança às famílias mais feridas, e fazer crescer a própria Igreja, que é uma família de famílias.

Mais do que em qualquer outro lugar, é na família que, vivendo juntos no dia-a-dia, se experimentam as limitações próprias e alheias, os pequenos e grandes problemas da coexistência e do pôr-se de acordo. Não existe a família perfeita, mas não é preciso ter medo da imperfeição, da fragilidade, nem mesmo dos conflitos; preciso é aprender a enfrentá-los de forma construtiva. Por isso, a família onde as pessoas, apesar das próprias limitações e pecados, se amam, torna-se uma escola de perdão. O perdão é uma dinâmica de comunicação: uma comunicação que definha e se quebra, mas, por meio do arrependimento expresso e acolhido, é possível reatá-la e fazê-la crescer. Uma criança que aprende, em família, a ouvir os outros, a falar de modo respeitoso, expressando o seu ponto de vista sem negar o dos outros, será um construtor de diálogo e reconciliação na sociedade.

Muito têm para nos ensinar, a propósito de limitações e comunicação, as famílias com filhos marcados por uma ou mais deficiências. A deficiência motora, sensorial ou intelectual sempre constitui uma tentação a fechar-se; mas pode tornar-se, graças ao amor dos pais, dos irmãos e doutras pessoas amigas, um estímulo para se abrir, compartilhar, comunicar de modo inclusivo; e pode ajudar a escola, a paróquia, as associações a tornarem-se mais acolhedoras para com todos, a não excluírem ninguém.

Além disso, num mundo onde frequentemente se amaldiçoa, insulta, semeia discórdia, polui com as murmurações o nosso ambiente humano, a família pode ser uma escola de comunicação feita de bênção. E isto, mesmo nos lugares onde parecem prevalecer como inevitáveis o ódio e a violência, quando as famílias estão separadas entre si por muros de pedras ou pelos muros mais impenetráveis do preconceito e do ressentimento, quando parece haver boas razões para dizer «agora basta»; na realidade, abençoar em vez de amaldiçoar, visitar em vez de repelir, acolher em vez de combater é a única forma de quebrar a espiral do mal, para testemunhar que o bem é sempre possível, para educar os filhos na fraternidade.

Os meios mais modernos de hoje, irrenunciáveis sobretudo para os mais jovens,tanto podem dificultar como ajudar a comunicação em família e entre as famílias. Podem-na dificultar, se se tornam uma forma de se subtrair à escuta, de se isolar apesar da presença física, de saturar todo o momento de silêncio e de espera, ignorando que «o silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras ricas de conteúdo» (Bento XVI, Mensagem do XLVI Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24/1/2012); e podem-na favorecer, se ajudam a narrar e compartilhar, a permanecer em contacto com os de longe, a agradecer e pedir perdão, a tornar possível sem cessar o encontro. Descobrindo diariamente este centro vital que é o encontro, este «início vivo», saberemos orientar o nosso relacionamento com as tecnologias, em vez de nos deixarmos arrastar por elas. Também neste campo, os primeiros educadores são os pais. Mas não devem ser deixados sozinhos; a comunidade cristã é chamada a colocar-se ao seu lado, para que saibam ensinar os filhos a viver, no ambiente da comunicação, segundo os critérios da dignidade da pessoa humana e do bem comum.

Assim o desafio que hoje se nos apresenta, é aprender de novo a narrar, não nos limitando a produzir e consumir informação, embora esta seja a direcção para a qual nos impelem os potentes e preciosos meios da comunicação contemporânea. A informação é importante, mas não é suficiente, porque muitas vezes simplifica, contrapõe as diferenças e as visões diversas, solicitando a tomar partido por uma ou pela outra, em vez de fornecer um olhar de conjunto.

No fim de contas, a própria família não é um objecto acerca do qual se comunicam opiniões nem um terreno onde se combatem batalhas ideológicas, mas um ambiente onde se aprende a comunicar na proximidade e um sujeito que comunica, uma «comunidade comunicadora». Uma comunidade que sabe acompanhar, festejar e frutificar. Neste sentido, é possível recuperar um olhar capaz de reconhecer que a família continua a ser um grande recurso, e não apenas um problema ou uma instituição em crise. Às vezes os meios de comunicação social tendem a apresentar a família como se fosse um modelo abstracto que se há-de aceitar ou rejeitar, defender ou atacar, em vez duma realidade concreta que se há-de viver; ou como se fosse uma ideologia de alguém contra outro, em vez de ser o lugar onde todos aprendemos o que significa comunicar no amor recebido e dado. Ao contrário, narrar significa compreender que as nossas vidas estão entrelaçadas numa trama unitária, que as vozes são múltiplas e cada uma é insubstituível.

A família mais bela, protagonista e não problema, é aquela que, partindo dotestemunho, sabe comunicar a beleza e a riqueza do relacionamento entre o homem e a mulher, entre pais e filhos. Não lutemos para defender o passado, mas trabalhemos com paciência e confiança, em todos os ambientes onde diariamente nos encontramos, para construir o futuro.

Vaticano, 23 de Janeiro – Vigília da Festa de São Francisco de Sales – de 2015.
Francisco PP.

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