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[Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
22.10.2014 | 17:43 | #capelania-e-identidade-crista
[Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
Convocado pelo papa Francisco, o Sínodo da Família, segundo vontade expressa do pontífice, deve ser ocasião de um sadio e aberto debate de ideias dentro do âmbito eclesial. Coerente com esse princípio, Francisco convidou os membros do Sínodo a se manifestarem com plena liberdade.

A Assembleia Extraordinária do Sínodo, ocorrida de 05 a 19/10/2014, terá continuidade através da discussão nas bases eclesiais. Em cima disso se realizará, de 04 a 25 de outubro de 2015, a Assembleia Geral ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema “A vocação e a missão da família na Igreja, no mundo contemporâneo”. E, após a conclusão das discussões, a Igreja publicará o documento final do Sínodo.

Como parte desse amplo processo, após uma semana de trabalho, veio à luz o relatório das reflexões iniciais do Sínodo. A primeira sessão do Sínodo recolheu inúmeras contribuições propostas pelos bispos e (embora em menor número) por demais delegados/as. Tais reflexões darão base para as escolhas pastorais da ação evangelizadora da Igreja Católica junto às famílias no mundo inteiro. A síntese dessas propostas foi publicada em 13/10/2014 na página eletrônica da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com informações colhidas dos órgãos de impressa do Vaticano.

O texto se desenvolve em três ideias-chave: “escutar o contexto sociocultural em que vivem as famílias hoje”; “olhar para Cristo e para o seu Evangelho da família” e “confrontar-se sobre as prospectivas pastorais” (como se pode reparar, coincide fundamentalmente com o método Ver-Julgar-Agir).

O referido documento afirma que “torna-se necessário um discernimento espiritual, no que diz respeito às convivências, aos matrimônios civis e aos divorciados recasados. Compete à Igreja reconhecer aquelas sementes do Verbo espalhadas para além dos seus confins visíveis e sacramentais. (...) A Igreja dirige-se com respeito àqueles que participam na sua vida em modo incompleto e imperfeito, apreciando mais os valores positivos que conservam do que os limites e as faltas”, aponta o relatório.

Fiel ao convite do papa Francisco, o cardeal Peter Erdo, relator geral do Sínodo, afirmou que as conclusões do Sínodo devem ser o fruto de um diálogo realizado “com grande liberdade” e “recíproca escuta”, de modo a “indicar prospectivas que deverão ser maturadas pela reflexão das Igrejas locais no ano que nos separa do Sínodo Ordinário de 2015”.

Um pouco do clima e do conteúdo dessa importante reunião eclesial vem resumido na “Mensagem da 3ª Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos”, divulgada no último sábado (18/10/2014) e reproduzida pela mesma página da CNBB supracitada.

Quem quer aprofundar o tema, pode começar consultando os relatórios dos grupos linguísticos (inglês, francês, italiano e espanhol), compostos por bispos de diversos continentes (Confira aqui os relatórios publicados).

Outro tema contundente é a relação da Igreja com as pessoas homossexuais. Quanto a esse tema, trazemos nesta semana a visão de alguém que (ainda que desde fora do horizonte eclesial e não contemplando senão parte da experiência histórica do cristianismo) argumenta a partir do Evangelho e, desde o próprio Evangelho, interpela a Igreja.


Mensagem da 3ª Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos

Foi divulgada no último dia, 18/10, mensagem da 3ª Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, que se realiza no Vaticano, de 05 a 19 de outubro, com o tema "Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização". No texto, os padres sinodais recordam os desafios enfrentados pela família na atualidade, como a fidelidade no amor conjugal, o enfraquecimento da fé e dos valores, o individualismo, o empobrecimento das relações, o stress, as dificuldades econômicas. Lembram, também, das famílias pobres e refugiadas "atingidas pela brutalidade das guerras e da opressão". Ao mesmo tempo, recordam que "o amor do homem e da mulher" ensina "que cada um dos dois tem necessidade do outro para ser si mesmo, mesmo permanecendo diferente ao outro na sua identidade, que se abre e se revela no dom mútuo". E que, neste caminho, "que às vezes é um percurso instável, com cansaços e caídas, tem-se sempre a presença e o acompanhamento de Deus".

Leia, abaixo, a íntegra da mensagem:

Mensagem da 3ª Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos

Nós, Padres Sinodais reunidos em Roma junto ao Santo Padre na Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, dirigimo-nos a todas as famílias dos diversos continentes e, em particular, àquelas que seguem Cristo, Caminho, Verdade e Vida. Manifestamos a nossa admiração e gratidão pelo testemunho cotidiano que vocês oferecem a nós e ao mundo com a sua fidelidade, fé, esperança e amor.

Também nós, pastores da Igreja, nascemos e crescemos em uma família com as mais diversas histórias e acontecimentos. Como sacerdotes e bispos, encontramos e vivemos ao lado de famílias que nos narraram em palavras e nos mostraram em atos uma longa série de esplendores, mas também de cansaços.

A própria preparação desta assembleia sinodal, a partir das respostas ao questionário enviado às Igrejas do mundo inteiro, permitiu-nos escutar a voz de tantas experiências familiares. O nosso diálogo nos dias do Sínodo nos enriqueceu reciprocamente, ajudando-nos a olhar toda a realidade viva e complexa em que as famílias vivem. A vocês, apresentamos as palavras de Cristo: "Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3, 20). Como costumava fazer durante os seus percursos ao longo das estradas da Terra Santa, entrando nas casas dos povoados, Jesus continua a passar também hoje pelos caminhos das nossas cidades. Nas vossas casas se experimentam luzes e sombras, desafios exaltantes, mas, às vezes, também provações dramáticas. A escuridão se faz ainda mais densa até se tornar trevas, quando se insinuam no coração da família o mal e o pecado.

Existem, antes de tudo, os grandes desafios da fidelidade no amor conjugal, do enfraquecimento da fé e dos valores, do individualismo, do empobrecimento das relações, do stress, de um alvoroço que ignora a reflexão, que também marcam a vida familiar. Assistimos, assim, a não poucas crises matrimoniais enfrentadas, frequentemente, em modo apressado e sem a coragem da paciência, da verificação, do perdão recíproco, da reconciliação e também do sacrifício. Os fracassos dão, assim, origem a novas relações, novos casais, novas uniões e novos matrimônios, criando situações familiares complexas e problemáticas para a escolha cristã.

Entre estes desafios queremos evocar também o cansaço da própria existência. Pensemos no sofrimento que pode aparecer em um filho portador de deficiência, em uma doença grave, na degeneração neurológica da velhice, na morte de uma pessoa querida. É admirável a fidelidade generosa de muitas famílias que vivem estas provações com coragem, fé e amor, considerando-as não como alguma coisa que é arrancada ou infligida, mas como alguma coisa que é doada a eles e que eles doam, vendo Cristo sofredor naquelas carnes doentes.

Pensemos nas dificuldades econômicas causadas por sistemas perversos, pelo “fetichismo do dinheiro e na ditadura de uma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano” (Evangelii Gaudium, 55), que humilha a dignidade das pessoas. Pensemos no pai ou na mãe desempregados, impotentes diante das necessidades também primárias de suas famílias, e nos jovens que se encontram diante de dias vazios e sem expectativas, e que podem tornar-se presa dos desvios na droga e na criminalidade.

Pensemos também na multidão das famílias pobres, aquelas que se agarram em um barco para atingir uma meta de sobrevivência, às famílias refugiadas que sem esperança migram nos desertos, aquelas perseguidas simplesmente pela sua fé e pelos seus valores espirituais e humanos, aquelas atingidas pela brutalidade das guerras e das opressões. Pensemos também nas mulheres que sofrem violência e são submetidas à exploração, ao tráfico de pessoas, às crianças e jovens vítimas de abusos até mesmo por parte daqueles que deveriam protegê-las e fazê-las crescer na confiança, e nos membros de tantas famílias humilhadas e em dificuldade. “A cultura do bem-estar nos anestesia e (...) todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma” (Evangelii Gaudium, 54). Fazemos apelo aos governos e às organizações internacionais para promoverem os direitos da família para o bem comum.

Cristo quis que a sua Igreja fosse uma casa com a porta sempre aberta na acolhida, sem excluir ninguém. Somos, por isso, agradecidos aos pastores, fiéis e comunidades prontos a acompanhar e a assumir as dilacerações interiores e sociais dos casais e das famílias.

Existe, contudo, também a luz que de noite resplandece atrás das janelas nas casas das cidades, nas modestas residências de periferia ou nos povoados e até mesmos nas cabanas: ela brilha e aquece os corpos e almas. Esta luz, na vida nupcial dos cônjuges, acende-se com o encontro: é um dom, uma graça que se expressa – como diz o Livro do Gênesis (2, 18) – quando os dois vultos estão um diante do outro, em uma “ajuda correspondente”, isto é, igual e recíproca. O amor do homem e da mulher nos ensina que cada um dos dois tem necessidade do outro para ser si mesmo, mesmo permanecendo diferente ao outro na sua identidade, que se abre e se revela no dom mútuo. É isto que manifesta em modo sugestivo a mulher do Cântico dos Cânticos: “O meu amado é para mim e eu sou sua... Eu sou do meu amado e meu amado é meu”, (Ct 2,16; 6,3).

Para que este encontro seja autêntico, o itinerário inicia com o noivado, tempo de espera e de preparação. Realiza-se em plenitude no Sacramento onde Deus coloca o seu selo, a sua presença e a sua graça. Este caminho conhece também a sexualidade, a ternura, e a beleza, que perduram também além do vigor e do frescor juvenil. O amor tende pela sua natureza ser para sempre, até dar a vida pela pessoa que se ama (cf. Jo 15, 13). Nesta luz, o amor conjugal único e indissolúvel persiste, apesar das tantas dificuldades do limite humano; é um dos milagres mais belos, embora seja também o mais comum.

Este amor se difunde por meio da fecundidade e do ‘gerativismo’, que não é somente procriação, mas também dom da vida divina no Batismo, educação e catequese dos filhos. É também capacidade de oferecer vida, afeto, valores, uma experiência possível também a quem não pode gerar. As famílias que vivem esta aventura luminosa tornam-se um testemunho para todos, em particular para os jovens.

Durante este caminho, que às vezes é um percurso instável, com cansaços e caídas, tem-se sempre a presença e o acompanhamento de Deus. A família de Deus experimenta isto no afeto e no diálogo entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs. Depois vive isto ao escutar juntos a Palavra de Deus e na oração comum, um pequeno oásis do espírito a ser criado em qualquer momento a cada dia. Existem, portanto, o empenho cotidiano na educação à fé e à vida boa e bonita do Evangelho, à santidade. Esta tarefa é, frequentemente, partilhada e exercida com grande afeto e dedicação também pelos avôs e avós. Assim, a família se apresenta como autêntica Igreja doméstica, que se alarga à família das famílias que é a comunidade eclesial. Os cônjuges cristãos são, após, chamados a tornarem-se mestres na fé e no amor também para os jovens casais.

O vértice que reúne e sintetiza todos os elos da comunhão com Deus e com o próximo é a Eucaristia dominical quando, com toda a Igreja, a família se senta à mesa com o Senhor. Ele se doa a todos nós, peregrinos na história em direção à meta do encontro último quando “Cristo será tudo em todos” (Cl 3, 11). Por isto, na primeira etapa do nosso caminho sinodal, refletimos sobre o acompanhamento pastoral e sobre o acesso aos sacramentos pelos divorciados recasados.

Nós, Padres Sinodais, pedimo-vos para caminhar conosco em direção ao próximo Sínodo. Em vocês se confirma a presença da família de Jesus, Maria e José na sua modesta casa. Também nós, unindo-nos à Família de Nazaré, elevamos ao Pai de todos a nossa invocação pelas famílias da terra:

Senhor, doa a todas as famílias a presença de esposos fortes e sábios, que sejam vertente de uma família livre e unida.

Senhor, doa aos pais a possibilidade de ter uma casa onde viver em paz com a família.

Senhor, doa aos filhos a possibilidade de serem sinal de confiança e aos jovens a coragem do compromisso estável e fiel.

Senhor, doa a todos a possibilidade de ganhar o pão com as suas próprias mãos, de provar a serenidade do espírito e de manter viva a chama da fé mesmo na escuridão.

Senhor, doa a todos a possibilidade de ver florescer uma Igreja sempre mais fiel e credível, uma cidade justa e humana, um mundo que ame a verdade, a justiça e a misericórdia.

Fonte: CNBB, em 18/10/2014




Papa Francisco ainda me levará a crer em Deus

Josias de Souza, jornalista da Folha de São Paulo e do portal uol
(artigo publicado no blog do Josias, 14/10/2014)

No ano passado, instado a dizer o que pensa sobre os homossexuais, o papa Francisco soara assim: “Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade quem sou eu para julgar?''. Fiquei surpreso. Incréu, jamais compreendi o descaso da Igreja para com as sagradas escrituras.

No versículo 34 do capítulo 13, o livro de João anota: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.” Jesus disse isso antes do início do calvário que o levaria à crucifixação. Foi como se ditasse um testamento.

A despeito das palavras Dele, a Igreja sempre amou de forma seletiva. Imagine se Jesus retornasse para sussurrar o mandamento nos ouvidos das batinas: “amai, irmãos, amai como eu vos amei.” Seus operadores responderiam, crispados de bondade: “Só aos heterossexuais, ó, Senhor. Só aos heterossexuais.”

Súbito, o papa convocou um Sínodo. E incluiu os gays na pauta dos bispos. Nesta segunda-feira (13/10), veio à luz o esboço de um texto que deve ser aprovado no sábado [18/10]. Não chega a equiparar a união civil entre pessoas do mesmo sexo ao casamento. Mas…

Mas anota coisas assim: “As pessoas homossexuais têm dons e qualidades que podem oferecer à comunidade cristã.'' Ou assim: é preciso acolhê-las “aceitando e valorizando sua orientação sexual.'' Alvíssaras!

O homossexualismo, como se sabe, é um dado da realidade. Existe a despeito da vontade da Igreja. Está presente, aliás, no interior de bons seminários, conventos e mosteiros. Mas sempre foi tratado pelo Vaticano como uma agressão à natureza, um atentado contra o “crescei e multiplicai-vos”.

Levando-se o argumento às últimas (in)consequências, também a Igreja estaria conspirando contra a natureza humana ao impor o voto de castidade aos seus sacerdotes. Se o destino do homem e da mulher é a procriação, o celibato teria de ser considerado tão “anormal” quanto o homossexualismo.

No rascunho produzido durante o Sínodo, anotou-se que há casos em que a união entre pessoas do mesmo sexo provê “o mútuo sustento” e “constitui um apoio precioso para a vida de cada um dos parceiros.”

A prevalecer esse entendimento na Igreja, o papa Francisco vai acabar me fazendo acreditar em Deus. Até porque, considerando-se os rumos da humanidade, está difícil de acreditar em qualquer outra coisa.

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